Dados do Inquérito Nacional de Saúde, de 2014, revelam que mais de metade da população, ou seja, 52,8%, com 18 ou mais anos, cerca de 4,5 milhões de pessoas, tem excesso de peso ou é obesa, no entanto, a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) esclarece que não há nenhum fármaco para o tratamento da obesidade com comparticipação do Estado.
“A obesidade é uma doença com um grande impacto na saúde pública e nos sistemas de saúde. Mas apesar haver um novo fármaco com vantagens para o doente, este não é comparticipado. Aliás, nunca houve nenhum fármaco comparticipado no nosso país”, refere Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade.
Por ocasião do Dia Mundial de Combate à Obesidade, que se comemora a 11 de outubro, Paula Freitas chama a atenção para a doença da obesidade ser vista “numa perspetiva mais global, uma vez que ainda há muitos doentes que são tratados pelas doenças associadas, como a diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia, apneia do sono, entre outras, sem que se resolva aquilo que as causa, ou seja, a obesidade”.
Os medicamentos disponíveis para tratar a obesidade não erradicam a doença, mas Paula Freitas considera que “são muito importantes para o seu combate”, e indica que quando conseguem reduzir “perdas de peso da ordem dos 5 ou 10% traduzem-se em melhoria ou mesmo reversão das comorbilidades associadas à obesidade, como a diabetes, hipertensão arterial, apneia, problemas articulares, etc.”
No caso da doença da obesidade o sucesso do seu combate depende, para além da toma dos medicamentos, de uma alteração do estilo de vida do doente, e esta vontade de alteração é potenciada pelos medicamentos, assim, a especialista é de opinião que “deveria haver uma comparticipação condicionada por esta mudança”.
O mais recente estudo da Associação Portuguesa contra a Obesidade Infantil (APCOI), realizado no ano letivo de 2016/2017, mostra que 28,5% das crianças em Portugal, entre os 2 e os 10 anos, têm excesso de peso e, destas, 12,7% são obesas.
Em face da situação, dada pelos números sobre a obesidade infantil, a presidente da SPEO considera que sendo “as crianças muito recetivas a novas ideias” se deveria atuar muito mais, “nomeadamente na educação para a saúde”. Existem vários projetos e iniciativas na área da obesidade infantil e em adultos, “mas falta ainda muito trabalho na promoção de uma ação global de educação para a saúde para todas as faixas etárias.”
Paula Freitas considera que há falta de nutricionistas e fisiologistas do exercício físico nos centros de saúde, capazes de prescrever, quer o plano alimentar, quer o exercício certo para cada doente, tal como se faz com a terapêutica medicamentosa. A especialista reconhece que “os médicos aconselham os doentes a fazer caminhadas, a inscrever-se no ginásio, etc. Mas todos deveriam ter acesso a um fisiologista do exercício físico, de modo a ter uma prescrição de exercício à medida da sua condição física e das doenças concomitantes.”
Numa altura em que se comemora o Dia Mundial de Combate à Obesidade é de lembrar que a prevalência da obesidade tem vindo a aumentar em todo o mundo, e que a Organização Mundial de Saúde lhe atribui a designação de epidemia global.
Para além da obesidade ser um problema grave de saúde pública, é uma das principais causas de doença e morte prematura, sendo um fator de risco para várias doenças, como as cardiovasculares, a diabetes e vários tipos de cancros. A obesidade é possível na maior parte dos casos ser prevenida, por mudança de estilo de vida, adotando uma alimentação saudável e a prática regular de exercício físico.