Prever a resistência ou sensibilidade de uma célula tumoral a um fármaco é um fator de sucesso fundamental na terapia de precisão do cancro. A previsão é dificultada pelo facto das alterações genéticas nos tumores mudarem dinamicamente ao longo do tempo, e muitas vezes serem interdependentes, seguindo um padrão que ainda é mal compreendido.
Um estudo liderado por investigadores do Instituto Suíço de Bioinformática, da Universidade de Lausana, na Suíça, e agora publicado na revista científica ‘Cancer Cell’, fornece uma estratégia promissora para antecipar a resistência do cancro a medicamentos, prevendo a coocorrência de cerca de 500 alterações tumorais conhecidas, bem como a resposta a mais de 200 medicamentos comuns contra o cancro.
Os investigadores indicam que, embora algumas coocorrências entre alterações genómicas confiram uma resistência às células tumorais contra determinados fármacos, as alterações genómicas também tornam as células tumorais sensíveis a outros fármacos.
O cancro é uma doença sempre em mudança, evoluindo através do surgimento e seleção de novas alterações genéticas. Para combinar determinados medicamentos específicos com as alterações e prever a resposta do cancro requer uma compreensão de como as alterações dependem umas das outras e como ocorrem num tumor.
Giovanni Ciriello, investigador líder da equipa do Instituto Suíço de Bioinformática, esclareceu, citado em comunicado, que “se pensa em alterações genómicas como itens alimentares, as células cancerígenas não são uma pilha aleatória de produtos guardados no frigorífico, mas menus de um jantar cuidadosamente projetados, nos quais os pratos são combinados e os sabores correspondem”.
A equipa de investigadores, liderada por Giovanni Ciriello, estudou como as alterações num tumor dependem umas das outras e como essas dependências determinam a evolução do cancro. O estudo fornece um extenso mapa de dependências entre 500 alterações conhecidas do tumor e uma estrutura teórica robusta para prever as coocorrências de tais alterações e sua resposta antecipada a mais de 200 medicamentos comuns contra o cancro.
No estudo os investigadores indicam que algumas dependências entre alterações genómicas poderiam conferir às células tumorais uma resistência a determinados fármacos, ao mesmo tempo que atuam como um ‘calcanhar de Aquiles’, tornando-as sensíveis a outros fármacos.
Ao analisar dados de mil linhas celulares, a equipa pode prever que quando as mutações dos genes ARID1A e RNF43, que estão envolvidos em tumores do cólon, reto e estômago, coocorreram, as células tornaram-se sensíveis ao VX-680, um fármaco que inibe a cinase Aurora envolvida na proliferação celular.
Os investigadores descrevem uma nova maneira de pensar sobre a evolução do cancro, e Giovanni Ciriello conclui: “As alterações genéticas associadas à doença não são escolhidas aleatoriamente com base num único efeito, mas combinadas pela evolução para maximizar sua sinergia”.
No estudo foi usada a coleção mais abrangente de dados moleculares do consórcio internacional The Cancer Genome Atlas, que inclui 6.456 amostras de tumor humano derivadas de 23 tipos de tumores.
Este mapa de dependências oncogénicas é um primeiro passo crucial para melhorar o design e abordagens terapêuticas personalizadas, e pode servir de referência para estudos funcionais e pré-clínicos.