Os problemas vasculares do embrião estão associados à morte do feto, a malformações e a deficiência cognitiva à nascença. Estes problemas podem ser causados pelo ambiente ou pela exposição a fármacos, neste sentido é importante a existência um teste fiável que possa despistar químicos nocivos, ou seja, que identifique medicamentos potencialmente causadores dos problemas durante a gravidez.
Um teste inovador, que permite identificar medicamentos potencialmente perigosos para a gravidez e que pode contribuir para a redução de defeitos à nascença, foi desenvolvido por uma equipa de investigação do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC).
Os investigadores desenvolveram um teste “no âmbito de um estudo que já foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, este teste irá “permitir avaliar a toxicidade dos medicamentos num sistema ‘humanizado’ e poderá contribuir para a redução de defeitos no desenvolvimento do sistema vascular do embrião”, indica a UC em comunicado.
A UC esclarece que o novo teste é um proposta de “alternativa aos atuais testes pré-natais que, além de serem realizados exclusivamente em animais, apresentam limitações quando testados em contexto clínico.”
Os investigadores recorrem a um sistema ‘humanizado’, isto é, “as células não são testadas em animais, mas colocadas numa plataforma microfluídica e expostas a condições de fluxo arterial que permite uma avaliação toxicológica em condições semelhantes ao que acontece in vivo.”
A equipa do CNC desenvolveu, numa primeira fase, uma metodologia para obter células endoteliais humanas a partir de células estaminais pluripotentes, células que podem originar todos os tecidos do organismo, e avaliou o impacto de 1280 químicos, identificando dois particularmente perigosos.
Helena Vazão, autora do artigo científico, esclareceu, citada em comunicado da UC, que foi desenvolvida “uma plataforma capaz de analisar e relacionar muitos dados simultaneamente de forma mais rápida (high-throughput) baseada em células estaminais pluripotentes humanas.”
Susana Rosa, outra das autoras do estudo, indicou, citada no comunicado da UC, que foram identificados “dois compostos, a aflufenazina (um anti-psicótico) e o 7-Cyclo (um anti-inflamatório), que interferem na formação da vasculatura embrionária. Os compostos foram posteriormente testados num modelo animal de embriões de peixe zebra confirmando-se a sua toxicidade”.
A análise é baseada em células endoteliais, embrionárias, ou seja, células que revestem os vasos sanguíneos e que estão em contacto direto com o sangue, obtidas a partir das células pluripotentes. A equipa descobriu que estes dois químicos apresentam uma maior toxicidade nas células endoteliais embrionárias quando comparados com as células endoteliais pós-natais, indicou a UC.
A equipa de investigação do CNC desenvolveu o estudo suportado em financiamento atribuído pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e em fundos europeus através dos programas COMPETE, QREN e FEDER.