Na União Europeia a indústria de produção de plásticos emprega 1,45 milhões de pessoas, gera um volume de negócios de 89 mil milhões de euros e consome, por ano, 778 GWh de energia.
Atualmente os plásticos são produzidos a partir de fontes não renováveis, como o gás natural e o petróleo. Não existe nenhuma via de produção de plástico que seja sustentável, e ao mesmo tempo há um problema grave com a criação do ‘lixo de plástico’, em especial no mar e nos oceanos.
Os polímeros resistentes têm uma importância crescente, para embalagens, materiais de construção, transporte, medicina e saúde, produtos elétricos e eletrónicos, agricultura, desporto ou lazer. Os plásticos são uma necessidade muito abrangente a vários produtos e setores de atividade.
Em face da dimensão das necessidades e dos problemas subjacentes aos plásticos, a indústria tem vindo a sofrer uma constante pressão para encontrar materiais sustentáveis para a produção de novos polímeros e novas técnicas de processamento, com recurso a menores consumos de energia.
Agora, uma larga equipa de investigadores europeus vai receber, da Comissão Europeia, 3,741 milhões de euros para a produção de polímeros através de um processo inspirado na natureza. Há centenas de milhões de anos que as aranhas e os bichos-da-seda vêm desenvolvendo estratégias de processamento dos seus materiais.
A seda, por exemplo, é 1000 vezes mais eficiente no processamento das unidades que constituem os seus fios que um polímero sintético, o que pode dar pistas para a síntese de novos materiais, indicam os investigadores.
A questão que se coloca aos investigadores é encontrar uma solução para a produção de polímeros, partindo de outros compostos naturais. Os investigadores estão convencidos que o novo conceito ‘Flow Induced Phase Transitions’ (FLIPT) pode ser a chave para uma nova forma de processamento de polímeros. O FLIPT é baseado no conceito de que a estrutura interna de fluidos complexos, como é o caso dos polímeros, é rearranjada e alterada no fluxo, em que as transições podem ser induzidas entre as fases, dando origem a uma relação tensão-deformação.
As instituições de investigação, de que faz parte o Instituto de Tecnologia Química e Biológica, da Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA), vai durante os próximos três anos investigar e testar soluções baseadas em modelos de processamento da aranha e dos bichos-da-seda para encontrar novas soluções.
Para os investigadores envolvidos no projeto “há um enorme potencial em desvendar as funcionalidades da seda e em aplicá-las a diversos materiais que polimerizem”.
O objetivo dos investigadores “é desenvolver ferramentas tecnológicas capazes de produzir novos materiais, com baixo custo e com menos energia, que possam ser competitivos em qualidade e quantidade aos polímeros derivados do petróleo, sendo muito superiores em termos de sustentabilidade do planeta”.
O projeto ‘FLow Induced Phase Transitions, A new low energy paradigm for polymer processing’ é coordenado pela Universidade de Sheffield, do Reino Unido, e são parceiros o ITQB NOVA, de Portugal, Centros de investigação da Universidade de Oxford, do Reino Unido, Centros de tecnologia da Finlândia, Universidade Aarhus, na Dinamarca e o Instituto Politécnico de Dresden, na Alemanha.
No ITQB NOVA, a investigadora Cristina Silva Pereira, vai no âmbito “do projeto analisar vários candidatos a biopolímeros a serem usados para esta técnica, em especial poliésteres de plantas”, indica o ITQB em nota à imprensa.
O ITQB NOVA vai receber 296,368 mil euros da UE para participar no projeto europeu. De referir que Laboratório de Micologia Ambiental e Aplicada, do ITQB NOVA, fundado em 2008, tem vindo a desenvolver tecnologias sustentáveis para a gestão e eliminação de poluentes, e para a criação de valor acrescentado de compósitos resultantes de atividades agroindustriais.
De referir ainda que em 2015 o ‘European Research Council’ (ERC) atribuiu à investigadora Cristina Silva Pereira do ITQB NOVA uma bolsa de 2 milhões de euros para, durante 5 anos, proceder à mimetização da funcionalidade de poliésteres das plantas como biomateriais antimicrobianos para a regeneração de feridas na pele.